Análise: Barcelona

Por Hudson Martins

Jogo: Barcelona 5 x 0 Real Madrid
Camp Nou, Barcelona
Campeonato Espanhol - 13ª Rodada - 29/11/2010

Durante duas horas, o mundo do futebol parou nesta segunda-feira. A monstruosa rivalidade, os dois melhores jogadores do mundo em campo, e o excelente momento de ambas as equipes fizeram com que todas as atenções se voltassem para Barcelona e Real Madrid. Num dos maiores massacres da história recente dos grandes clássicos do planeta, o Barça atropelou o Madrid por 5 x 0, com gols marcados por Xavi, Pedro, Villa (2) e Jeffren. Além da vitória, os catalães ainda assumem a liderança de La Liga com 34 pontos, deixando para trás o próprio rival, agora com 32.



Como percebe-se nas disposições acima, o Barcelona não fez alterações táticas significativas em momento algum da partida. Não foi necessário. O absoluto controle em campo, oriundo de uma equipe compacta, de grandes atuações individuais, e muito mais equilibrada sob o aspecto emocional do que o Real Madrid, fez com que o plano tático fosse pouquíssimo alterado durante o clássico. Destaque para a gigantesca disparidade em dois aguardados embates: o jogo insinuante da equipe de Pep Guardiola atropelou a, até então, consistente defesa de José Mourinho (cujas equipes jamais haviam sofrido mais de 3 gols num jogo); além disso, a objetividade de Lionel Messi foi muito superior à atuação de Cristiano Ronaldo, ainda que este tenha sido vítima da solidez defensiva do Barça.

Leitura tática

Com a posse de bola...

- A manutenção da posse de bola é a principal virtude deste Barcelona. O que parece assustador para outras equipes, torna-se natural para os comandados de Guardiola, que mantiveram assustadores 67%* de posse contra o Real Madrid. Este tipo de comportamento denota não apenas o entrosamento do Barça (que faz diferença mesmo contra adversários de alto nível), como também a impressionante adaptação a um estilo de jogo singular, que exige muita movimentação dos jogadores que não estão com a bola, e extrema precisão para aquele que a possui.

- As subidas de Daniel Alves revelam uma outra característica do Barcelona: em diversos momentos, Eric Abidal forma linha de três zagueiros ao lado de Gerard Pique e Carles Puyol. O sistema defensivo ganha força, e o ataque mantém-se equilibrado, já que Iniesta e David Villa caem pelo setor esquerdo.

- Xavi e Iniesta são cada vez mais fantásticos. São eles que ditam o ritmo do meio-campo do Barcelona, com movimentação intensa, pouquíssimos erros de passes, acelerando ou cadenciando o jogo de acordo com a situação, e utilizando toda a extensão do campo, de modo a facilitar o jogo pelos lados e abrir espaços pelo centro. Em alguns casos, a defesa adversária até se organiza corretamente; mas é ai que aparece...

- ... Lionel Messi. Em mais uma exibição de gala, o camisa 10 do Barça fez o que quis em campo. Em boa parte da primeira etapa, voltou para buscar o jogo, qualificando a transição, e abrindo espaço para as subidas de Xavi e Iniesta (ambos avançados e importantíssimos no lance do primeiro gol, por exemplo). As arrancadas e dribles espetaculares vieram mais tarde, sempre da mesma maneira: deslocamento da direita para o centro, buscando as infiltrações de David Villa (outro em grande forma). Jogada manjada, mas imbatível, pois trata-se de um atleta absolutamente fora de série. Qual é o limite para Messi?

Sem a posse de bola...

- Puyol era a sombra de Cristiano Ronaldo. Prova disso era a alteração da disposição dos zagueiros do Barça de acordo com o posicionamento do português: se Ronaldo estivesse pela direita, Puyol jogava pela esquerda, e vice-versa. Nos confrontos diretos, o zagueiro foi muito superior, garantindo boa parte da consistência defensiva do Barça no clássico.

- Com transição comprometida, uma vez que a marcação adversária era muito bem encaixada, o Real Madrid, não raro, apelava para a ligação direta defesa/ataque. Nada mal para Pique e Busquets, ambos altos e fortes, o que lhes garantia segurança para o cabeceio, e era fundamental na retomada da posse de bola por parte do Barcelona. Vários dos ataques insinuantes do Barça começaram por aqui.

- Na saída de bola do Real Madrid, o posicionamento do Barcelona era claro: Daniel Alves voltava para recompor a linha de quatro defensores. Villa, Iniesta, Xavi e Pedro formavam, da esquerda para a direita, outra linha, sendo que, entre elas, havia Busquets. Centralizado no ataque estava Messi, em várias oportunidades pressionando o zagueiro que estivesse com a posse de bola. Com posicionamento exemplar, o Barcelona construiu uma defesa sólida sem ser covarde, e de marcação forte, mas jamais desleal. Características de uma equipe segura do início ao fim do clássico, que refletiu em campo a confiança que, há muito tempo, detém fora dele.

* números do espndeportes.com

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