Análise: Real Madrid

Por Hudson Martins

Jogo: Ajax 0 x 4 Real Madrid
Amsterdam Arena, Amsterdã
UEFA Champions League - 5ª Rodada - Fase de Grupos - 23/11/2010

O Real Madrid segue em espetacular forma na temporada 2010/11. Além da liderança do Campeonato Espanhol, a equipe do modesto José Mourinho garantiu, com uma rodada de antecedência, a sua vaga nas oitavas-de-final da UEFA Champions League. Contra o Ajax, numa partida que envolveu duas camisas de peso no cenário continental, goleada do Madrid por 4 x 0. Benzema, Arbeloa e Cristiano Ronaldo - duas vezes - marcaram em Amsterdã.

O 4-2-3-1 caiu como uma luva no Real Madrid de José Mourinho. Com nuances táticas bem definidas (e mais detalhadas abaixo), vale ressaltar o que o aspecto técnico demonstrou na partida que antecede o clássico espanhol contra o Barcelona. Dentre os jogadores que não são costumeiramente titulares, destaque para as atuações de Alvaro Arbeloa (quem diria) e Karim Benzema, bom jogador que descobre aos poucos as funções de um centroavante deste Real Madrid (não basta ficar plantado na área; deve-se buscar o jogo pelos flancos, abrindo espaços para quem vem de trás, além de auxiliar a marcação quando um dos três meias não puder fazê-lo). Lassana Diarra também fez bom jogo, e Raul Albiol pouco foi exigido. Quem esteve apagado foi Pedro Leon, que não chegou nem perto da eficiencia ofensiva apresentada por Angel Di Maria desde que este chegou ao Santiago Bernabeu. Aqueles que já são titulares fizeram belo jogo, com destaque para o excelente Xabi Alonso, e Cristiano Ronaldo, em temporada magistral. Com tamanha qualidade, o Real passeou na Holanda. Após garantir a vitória, Xabi Alonso e Sergio Ramos foram expulsos (aparentemente, de maneira intencional), descaracterizando o usual esquema tático do Madrid. Neste momento, Di Maria, David Mateos e Sergio Canales já estavam em campo.

Leitura tática

Com a posse de bola...

- Observa-se uma transição defesa/ataque altamente qualificada. A saída de bola - ditada por Xabi Alonso - dificilmente falha, e facilita sobremaneira o trabalho dos meias. Quando a marcação adversária está encaixada, a transição é cadenciada; já quando há espaço, o Real Madrid apresenta aquela que talvez seja a sua arma mais forte: o contra-ataque.

- Arbeloa e Marcelo sobem ao ataque, mas o brasileiro o faz com maior intensidade. Em excelente fase, Marcelo defende bem, e sempre cria boas situações ofensivas ao lado de Cristiano Ronaldo, com quem tem bom entrsosamento.

- 542 passes, sendo 433 corretos; aproveitamento de 80%*. O Real Madrid passou mais a bola do que o Ajax, e ainda assim, foi 4 pontos percentuais mais eficiente. Aqui está a prova de uma mudança no estilo de jogo não apenas da equipe espanhola (em relação às últimas temporadas), como do próprio José Mourinho: muita posse de bola, com poucos erros de passes, evitando que o adversário se apodere da pelota no seu campo de defesa, e ganhando cada vez mais território. Outra qualidade do Real Madrid.

- Mesut Ozil, Cristiano Ronaldo e Angel Di Maria (reserva contra o Ajax, mas titularíssimo desta equipe) não guardam posição fixa. Embora saiba-se quem atua em qual faixa do campo, a movimentação é constante, e espaços na defesa adversária surgem como consequência. Com a qualidade técnica que possuem, estes espaços são quase que sinônimo de jogadas de perigo para o oponente. Ressalte-se ainda o trabalho do centroavante e do segundo volante (teoricamente Gonzalo Higuain e Sami Khedira): o primeiro abre espaços para os que vêm de trás, ao passo que o segundo aproveita-de de alguns dos espaços abertos no campo de ataque.

- Atenção às jogadas de bola parada: nos escanteios, Xabi Alonso cobra, e cinco jogadores ocupam a grande área, tentando o cabeceio. Os dois meias restantes (já que Ronaldo vai à área) ficam no rebote, e Marcelo e Arbeloa guardam a defesa.

Sem a posse de bola...

- Não é raro ver o Real Madrid desarmando no campo de ataque. Com as linhas de marcação adiantadas, várias vezes a equipe de José Mourinho rouba a bola (ou força o erro do adversário) dentro do campo do oponente, e sai de cara para o gol. Um exemplo disso é o terceiro tento contra o Ajax, em lance iniciado após erro forçado de Urby Emanuelson.

- Dentro do seu campo, raramente o Madrid deixa espaços. Com a volta de 9 dos 10 jogadores de linha (apenas o centroavante fica mais solto), quase todos os pontos do campo são cobertos, impedindo que as jogadas de criação do adversário saiam. Contra o Ajax, destaque para Marcelo e Arbeloa, de trabalho dobrado em função do 4-3-3 da equipe holandesa, que forçava o jogo pelos lados do campo.

- Entretanto, houve equívocos na marcação das raras jogadas pelo centro. Algumas faltas perigosas foram cedidas ao Ajax. Ainda que tenha sido ineficiente nas cobranças, a equipe holandesa teve chances evidentes de marcar neste tipo de lance, algo que pode ser problemático contra um adversário mais qualificado.

* Números do uefa.com