Até quando?

Por Antonio Rodrigues Neto

Pensei, pensei e pensei no assunto que poderia abordar nessa minha coluna de estréia aqui no Leitura de Jogo. Estava convicto de que o mais interessante para os leitores seria um exercício de imaginação, um atrevimento de minha parte, para tentar desvendar o que 2011 reserva aos grandes clubes do país. No entanto, um sentimento crescente de indignação com esse péssimo nível de arbitragens que temos no Brasil me fez mudar abruptamente de idéia.

Curiosamente quando parei para pensar um pouco mais no assunto, percebi que ele é mais abrangente do que imaginei no início...

E é mais abrangente porque não há uma grande explicação para essa calamidade que são as arbitragens no Brasil. Há uma conjunção de fatores que nos levaram até esse triste momento pelo qual estamos atravessando.

Assisto muito futebol. Futebol praticado no Brasil e futebol praticado no resto do mundo, que é acessível a qualquer um que tenha ESPN em casa. Posso dizer, sem medo de errar, que essa situação que temos no Brasil é única. Só aqui temos tantos pênaltis absurdos por rodada. Só aqui temos tantos jogadores que caem no chão ao menor contato, obviamente sabendo que a “faltinha” será marcada. Só aqui a exceção é termos uma boa arbitragem em um jogo importante. Só aqui os árbitros fazem questão de gritar e xingar os jogadores.

Assistindo aos jogos do campeonato brasileiro da Série A, a impressão que temos é que os únicos critérios seguidos à risca são: 1) pênalti é sinônimo de cartão amarelo, mesmo se a falta for absolutamente normal ou mesmo se a falta sequer existiu. Pênalti = cartão amarelo e ponto final. 2) Se o jogador fala alguma coisa, xingue e o ponha no seu lugar. 3) Para controlar um jogo saia distribuindo amarelos. 4) Encostou? Falta.

Existe a mínima possibilidade de que uma coisa cheia de vícios lamentáveis como estes acabe dando certo? Na minha modesta opinião, nunca.

As arbitragens no futebol brasileiro estão beirando o absurdo. E o pior é que não vemos perspectiva de melhora porque todos esses problemas são agravados pela figura do “comentarista de arbitragem”. Eles legitimam a maioria desses comportamentos.

Se o arbitro está tentando deixar o jogo correr: ele está “perdendo o controle da partida”. Arbitro acintosamente xingando os jogadores vira sinônimo de “advertência verbal”. Contato, ainda que visivelmente insuficiente para derrubar o adversário, se transforma em falta. Tudo com a colaboração dos jogadores que realmente se jogam ao menor contato e fazem questão de reclamar em todas as marcações do arbitro.

Exposto o problema, volto ao título da coluna: até quando? Como eu disse anteriormente, a coisa já passou dos limites e está começando a ficar insuportável. Mas o pior é que, pelo menos para mim, estamos muito, mas muito longe de sequer começarmos a resolver o problema.

Temos árbitros cada vez mais fracos apitando no Brasil todo. Prova disso é que temos dificuldade em apontar UM destaque no quadro da CBF. Nosso representante nas ultimas Copas é Carlos Eugênio Simon que está próximo da aposentadoria e nunca foi uma unanimidade. Nossos jogadores já saem da base predispostos a queda com o menor contato.

Citando um fato concreto, para elucidar meu ponto de vista: na 33ª rodada do campeonato brasileiro tivemos três pênaltis marcados. Nenhum deles foi realmente pênalti. E não sou apenas eu quem tem essa opinião. É praticamente consenso que nenhuma das três penalidades existiu. Dois destes “pênaltis” beiram o cômico.

O que fazer para reverter esse quadro? Antes de qualquer coisa, definir alguns critérios. Por exemplo: só aplicar o cartão amarelo se ao cometer pênalti o jogador realmente cometeu uma falta passível de cartão amarelo. Outro exemplo: o arbitro não precisa bater boca e xingar o jogador para ser respeitado. Mais um: encostar não é proibido.

Mas isso só ameniza o problema. Para resolvê-lo é preciso que a preparação desses árbitros seja aprimorada. Não sei especificamente o que está sendo feito de errado porque não tenho acesso à esta preparação, porém pelo que estamos vendo no campeonato mais importante do Brasil, alguma coisa de errado está sendo feita e já passou da hora de alguém tentar reverter a atual situação.

Antonio Rodrigues Neto é catarinense, cresceu antes da popularização do pay-per-view e do acesso a informação através da internet. Assim, sua paixão pelo futebol foi forjada em tardes de domingo ouvindo jogos no rádio ao lado do seu pai. Com o passar do tempo a paixão foi aumentando e acabou se expandindo para além de nossas fronteiras. O futebol brasileiro parecia não ser mais suficiente, razão pela qual passou a assistir com freqüência o futebol praticado na Europa. Hoje, para em frente à televisão para assistir qualquer partida que esteja passando.

Contato: antoniosrneto@yahoo.com.br

4 comentários:

  1. Excelente coluna, Antonio. Através dela, podemos atentar para algumas questões importantes relativas à arbitragem nacional:

    - Se a regra é a mesma, por que o número de faltas marcadas no futebol europeu é tão inferior ao marcado no Brasil?

    - Até que ponto o trabalho na base seria importante para minimizar o alto número de infrações marcadas (na medida em que os jogadores crescem aprendendo a ludibriar os árbitros em determinados momentos)?

    - E, sobretudo: por que razão ainda não ocorreu a profissionalização da arbitragem no Brasil?

    São questões que devem ser discutidas imediatamente, e de maneira intensa, dada a abrangência do assunto, o que foi oportunamente citado na coluna.

    ResponderExcluir
  2. Bela coluna de estreia, amigo Antonio...

    O tema é espinhoso, mas merece ser bem discutido. É uma vergonha a arbitragem brasileira. Sempre que há uma Copa do Mundo, tenho medo de um juiz brasileiro estragar a festa de outro time.

    É preciso que se repense o poder que é dado a pessoas tão despreparadas......

    ResponderExcluir
  3. Logo ontem, Antonio, um lance para exemplicficar a sua coluna no jogo Corinthians x Cruzeiro.

    Eita arbitragem brasileira..... "Até quando?"

    ResponderExcluir
  4. Uma coluna sobre arbitragem no Brasil fica desatualizada a cada rodada.

    Os absurdos que vemos a cada rodada é revoltante.

    ResponderExcluir