Grandes goleiros, grandes homens

Por Vitor Fontenele

Na Europa, é comum que um jogador jovem, muitas vezes revelado nas divisões de base do clube, se destaque e permaneça durante anos no time, às vezes até a aposentadoria, ou enquanto jogar em alto nível. No Brasil, por outro lado, esse é um caso raro. Jovens como Phillipe Coutinho e André, mais recentemente, e Ronaldo e Adriano, há alguns anos, vão para a Europa ainda recém-saídos da adolescência.

Entre os goleiros, no entanto, este "padrão europeu" é mais freqüente – ou pelo menos existente. É o caso de grandes jogadores, como Rogério Ceni, famoso pelas cobranças de falta perfeitas; Marcos, um monstro debaixo da trave; e – por que não? – o menos lembrado, e o não menos competente Harlei, do Goiás. Todos já se aproximam dos 40 anos, mas não perderam o vigor físico nem a qualidade, somando-a ainda à experiência adquirida. Rogério tem 37, Marcos, também 37 e Harlei, 38.

Ceni está no São Paulo desde 1990, quando foi contratado como uma revelação junto ao Sinop-MT. Titular do clube desde 1997, excetuando-se os períodos de contusão, tem um total de 941 jogos e 94 gols pelo tricolor (dados de 23/11/2010). Campeão de tudo que se pode disputar em um clube, chegou até mesmo à Seleção, mas nunca teve um histórico de convocações, jogando apenas em 17 ocasiões. Em qualquer lista dos maiores goleiros da história, ou dos maiores ídolos de clubes no Brasil, Rogério Ceni não pode ficar de fora.

Marcos chegou ao Palmeiras em 1992, após ser revelado no CAL/Bariri, e chegou à titularidade apenas em 1999, na quinta rodada da Copa Libertadores daquele ano, substituindo o veterano Velloso. Após defesas milagrosas no confronto contra o arquirrival Corinthians nas quartas de final da competição, ganhou o apelido de São Marcos, com o qual atingiria a consagração. Em 2002, foi o goleiro titular da campanha do pentacampeonato mundial, sendo seus reservas Dida e Rogério Ceni (curiosamente, ídolos dos rivais Corinthians e São Paulo, respectivamente). Marcos também passou por momentos ruins, como o rebaixamento do clube em 2002. Hoje, é considerado um dos maiores ídolos da história do Palmeiras.

O menos conhecido dos três, mas que na minha opinião jamais poderia ser esquecido, é Harlei de Menezes Silva. Chegou ao Goiás em 1999, após uma passagem pelo Cruzeiro, e dois anos no Comercial de Ribeirão Preto e no Vila Nova-GO. Assumiu o posto principal, ocupado à época por Márcio, durante a Série B de 1999, ano em que o time seria campeão do torneio. É o jogador com mais partidas disputadas com a camisa do Esmeraldino, e é indiscutivelmente o maior ídolo da torcida do clube.

Essa definitivamente não foi uma coluna usual, já que prefiro os temas que requerem uma análise da situação. No entanto, foi inevitável prestar essa homenagem a esses três grandes goleiros, que em seus clubes foram do anonimato à titularidade e da titularidade à idolatria. A história desses grandes homens, que encontraram nesses times uma identificação perfeita, tendo os três já recusado inúmeras propostas de transferência com valores bastante atrativos, continua a ser escrita. Esse ano, Marcos afirmou que não continuará a jogar se sentir que está caindo de produção. Harlei diz que ainda vai defender o Goiás por mais algum tempo, e acaba de amargar um rebaixamento para a Segunda Divisão. Todos chegam à casa dos 40, mas o amor pela camisa, tão raro hoje em dia, parece ficar cada vez mais vivo, talvez por terem os três mais de 10 anos à frente de seus clubes.

Parabéns a esses grandes goleiros, e também grandes homens.

Vitor Fontenele é piauiense, e aproveita quando está em casa e o sol forte de Teresina não lhe afeta a cabeça para intrometer-se nos mais variados assuntos do futebol. Vascaíno fanático, é daqueles que não perde uma chance de ver o time em campo, mesmo com a chiadeira da namorada flamenguista. Assiste até a jogo da A2 paulista na RedeVida quando não tem o que fazer. Atua no Fórum NetVasco, onde conheceu o Leitura de Jogo e aprendeu a discutir futebol em alto nível e é louco por análises táticas e psicológicas do futebol.

2 comentários:

  1. Muito bom, Vítor !!

    Eu apóio muito esses jogadores que ficam anos no mesmo clube, mas no futebol hj em dia é complicado isso, mas a verdade é que a posição de goleiro favorece mesmo a manutenção por várias temporadas num mesmo clube !!

    Parabéns

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