Análise: Athletic Bilbao

Por Hudson Martins

Jogo: Barcelona 0 x 0 Athletic Bilbao
Camp Nou, Barcelona
Copa do Rei - Oitavas-de-Final - 21/12/2010

Após 10 vitórias em sequência, e atuações mais do que espetaculares, surgiu um clube capaz de brecar o Barcelona - e dentro do Camp Nou. Ainda que tenha poupado boa parte dos seus titulares (Messi e Villa entraram no segundo tempo, apenas), esperava-se que o Barça fizesse valer a sua superioridade frente ao Athletic Bilbao. Entretanto, o que se viu foi uma atuação espetacular de todo o sistema defensivo dos visitantes; fator preponderante para que o resultado final fosse um empate por 0 x 0.  Mas o que o Athletic fez de tão especial para parar o melhor ataque do mundo?



A resposta à questão acima foi dada por Eduardo Alvarez, na transmissão da Rede Esporte Interativo. Segundo Alvarez, "o Athletic abdicou de atacar". E, de fato, foi esse o preço pago pelos bascos no intuito de frear o melhor time do mundo. Tanto o 4-4-2 ortodoxo, quanto o 4-5-1 (sim, havia uma linha de 5 jogadores na defesa) utilizado a partir dos 27 minutos da segunda etapa, tinham como claro objetivo criar subsídios capazes de gerar consistência defensiva à equipe de Bilbao. E houve resultado, mesmo após a entrada de Messi, escondido entre os zagueiros, e que pouco pode fazer para mudar o panorama da partida. Sem quase nenhuma movimentação no ataque (e pouca capacidade de retenção da posse de bola no setor ofensivo, graças à ausência de Fernando Llorente) e clara proposta de jogo privilegiando a defesa, o Athletic - por que não? - fez história no Camp Nou.

Leitura tática

Com a posse de bola...

- Para fazer com que a bola chegasse ao ataque, o Athletic buscava a chamada ligação direta, que trazia consigo, implicitamente, uma maneira de minimizar os efeitos da forte marcação do Barcelona no campo do adversário. Com jogadores de estatura elevada na frente, como Gabilondo e Iturraspe, a equipe do técnico Joaquin Caparrós se valia deste recurso para deixar a bola fora do seu campo defensivo, e ainda aproveitar um eventual rebote da zaga do Barça para incomodar no ataque. Foi bem sucedida apenas na primeira opção.

- Em função da grande posse de bola e quantidade de jogadores do Barcelona no seu campo de ataque, o Athletic teve várias oportunidades para contra-atacar; algumas delas bem evidentes, após desarmes precisos de Javi Martinez e Gurpegi pelo centro do campo. Entretanto, em função da grande preocupação defensiva, as opções de passe eram poucas, e as oportunidades de chegar ao campo de ataque do Barça (ainda que a prioridade não fosse atacar) acabavam caindo por terra, já que a equipe da casa tinha tempo suficiente para se recompor defensivamente.

Sem a posse de bola...

- A proposta de jogo do Athletic era muito clara: ocupar tanto quanto fosse possível o seu próprio campo defensivo, de modo a inibir o ataque barcelonista; marcado pela movimentação e pela utilização de grande extensão do campo. Com posicionamento correto das duas linhas de quatro defensores, que forçava erros de passe por parte dos catalães, a equipe de Bilbao conseguiu evitar corretamente as investidas adversárias em ambas as etapas.

- Não havia qualquer tipo de marcação individual. O que o Athletic fez foi reforçar o sistema defensivo através de uma mescla: pelos lados do campo (sobretudo o esquerdo, por onde jogavam Daniel Alves e Pedro), os meias jogavam recuados na maior parte do tempo, de modo a minimizar as entradas em diagonal de jogadores como Pedro, Daniel Alves ou Bojan, fossem elas com ou sem a bola (nas tradicionais inversões de jogo, que mataram adversários como o Real Madrid, por exemplo). Pelo centro, era dada liberdade a Javier Mascherano (de reconhecida cautela nas subidas ao ataque) na saída de bola, liberdade essa que não foi concedida à Keita e Xavi, com dificuldades de ganharem terreno no campo defensivo do oponente.

- A grande expectativa ficava por conta da reação do Athletic à entrada de Lionel Messi em campo, o que ocorreu aos 8 minutos do segundo tempo. Ao contrário do que se esperava, o camisa 10 atuou como uma espécie de falso centroavante - posicionamento comum para o argentino, mas que talvez não fosse o ideal para superar a retranca do adversário. O técnico Joaquin Caparrós ainda apostou na entrada de Orbaiz, que, em posicionamento recuado, fazia com que a dificuldade para que a bola chegasse ao ataque em boas condições fosse ainda maior. Numa mistura de competência do Bilbao e equívoco tático de Pep Guardiola, o Barcelona, mesmo com Lionel Messi em campo, não foi capaz de superar a marcação do Athletic Bilbao.

- Outro ponto importante: a maioria dos jogadores do sistema defensivo da equipe basca tem estatura elevada. Dessa forma, até mesmo as jogadas de bola parada (e as consequentes subidas de Gerard Pique, por exemplo) eram anuladas, ainda que um dos grandes méritos dos comandados de Joaquin Caparrós tenha sido poucas faltas laterais no seu campo defensivo. A marcação foi dura, mas leal.

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