Análise: Arsenal

Por Hudson Martins

Jogo: Arsenal 2 x 1 Barcelona
Emirates Stadium, Londres
UEFA Champions League - Oitavas-de-final - 16/02/2011

Assim que a bola rolou no Emirates Stadium, até mesmo o torcedor mais fanático do Arsenal sabia que eliminar o Barcelona era uma missão dificílima, dada a qualidade deste que é um dos maiores times de todos os tempos. A missão segue difícil; entretanto, num belíssimo jogo, os Gunners trataram de fazer valer o mando de campo, e trouxeram para si a vantagem parcial no confronto. Com gols de Robin Van Persie e Andrey Arshavin, o Arsenal, de virada, fez 2 x 1 no Barcelona. David Villa marcou para os catalães.



Acima, as formações do Arsenal quando iniciou e terminou a partida contra o Barcelona. O 4-2-3-1 (que podia virar um 4-4-1-1, de acordo com o posicionamento dos jogadores dos lados do campo) de Arsene Wenger não conseguiu pressionar o Barça, mas foi eficiente no setor ofensivo, marcando dois gols num curto espaço de tempo. Destaque para a tentativa de Djorou e Koscielny de minimizar a distância para a segunda linha de marcação, a projeção dos volantes, não apenas para auxiliar a manter a posse de bola, como também marcar Xavi e Iniesta, e as entradas em diagonal de Walcott, no primeiro tempo, e Arshavin, no segundo. O russo decidiu o jogo, marcando o segundo gol aos 38 do segundo tempo.

Leitura Tática

Com a posse de bola, o Arsenal tinha qualidade técnica para incomodar o Barça. O problema era manter a pelota sob seu domínio, visto que uma das características mais contundentes do Barcelona é o alto percentual de posse de bola (na partida desta quarta, foram 61%). Com problemas para ditar o ritmo da partida, restava ao Arsenal aderir aos contra-ataques. E eles surgiram em alguns momentos da primeira etapa, sobretudo com Theo Walcott, pela direita. O camisa 14 fazia bom jogo, e era a principal arma ofensiva da equipe da casa.

A transição defesa/ataque era muito qualificada pelo excelente Jack Wilshere, um dos melhores em campo. Errando pouquíssimos passes, e comandando o meio-campo (talvez até mais do que Cesc Fabregas, cuja área de atuação era minimizada pela defesa barcelonista), Wilshere comandou um setor fundamental para o rendimento ofensivo dos Gunners, e que exigia altíssima qualidade técnica, dado o posicionamento adiantado da marcação dos visitantes em boa parte do jogo.

Na segunda etapa, o ataque do Arsenal cresceu pelo lado esquerdo. Samir Nasri levava vantagem no duelo contra Daniel Alves, e fazia com que a maioria das ações ofensivas da equipe de Arsene Wenger se dessem por aquele setor. Entretanto, ainda não havia contundência suficiente para pressionar o Barcelona, mesmo com a necessidade do resultado.

Sentindo a necessidade da mudança, Wenger lançou mão de Andrey Arshavin e Nicklas Bendtner, e foi extremamente feliz. No caso do dinamarquês, ao contrário do que se esperava, seu posicionamento foi aberto pela direita, mantendo Van Persie como centro-avante. Num belíssimo passe de Gael Clichy, Van Persie soube se valer da sua canhota para empatar o jogo. Cinco minutos mais tarde, em belíssimo contra-ataque, Arshavin marcou o segundo, e garantiu a vitória do Arsenal.

Sem a posse de bola, a estratégia adotada pelo Arsenal foi extremamente ousada. Wilshere e Song se adiantavam no combate à Xavi e Iniesta, diminuindo o raio de ação dos meias barcelonistas. Para que não houvesse espaço entre as duas linhas de defesa, era fundamental que Johann Djorou e Laurent Koscielny também se adiantassem, de modo que Messi não tivesse liberdade com a posse de bola. Na teoria, belíssima estratégia. Na prática, era necessário que houvesse o máximo possível de aplicação; já que qualquer erro poderia significar um tento para a equipe de Pep Guardiola.

E houve, de fato, falhas que possibilitaram ao Barcelona chances claríssimas de gol. Para sorte dos Gunners, Lionel Messi não estava em noite inspirada, e perdeu ao menos duas oportunidades evidentes para marcar. Entretanto, David Villa foi mais eficiente. Em jogada na qual Song deu liberdade à Messi, que voltou para buscar o jogo, e Clichy fugiu ao posicionamento dos zagueiros, dando condição ao centroavante adversário, o Barça abriu o placar.

Mesmo com a desvantagem, a equipe de Arsene Wenger manteve a postura defensiva, e soube, na medida do possível, conter a força ofensiva do Barcelona. Destaque para Koscielny, que foi preciso na função de antecipar-se aos atacantes adversários quando a bola ultrapassava a linha de meio-campo. Naquele setor, qualquer falha poderia ser fatal para as pretensões do Arsenal.

Balanço Tático

O Arsenal teve menos posse de bola, não sufocou o Barcelona, e foi dominado pelo adversário em boa parte do jogo, sobretudo no primeiro tempo. E quem disse que não há como vencer o Barça ainda assim? Marcando de maneira bastante eficiente, e sabedor de que poderia resolver o jogo num eventual contra-ataque, os Gunners vão para o Camp Nou com a vantagem do empate. Destaque para a extrema felicidade de Arsene Wenger nas substituições; embora não tenha havido qualquer tipo de mudança tática, os jogadores que entraram na segunda etapa tiveram, direta ou indiretamente, participação na vitória dos ingleses. Um passo muito importante para a definição do confronto mais espetacular desta fase da UCL.

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