Não é apenas a estrutura...

Por Antonio Rodrigues Neto

Eu sei que os leitores não devem agüentar mais essa discussão sobre estrutura, Muricy Ramalho, contusões, ratos, gramados, etc, etc, no entanto muita gente parece ignorar certos aspectos dessa crise do Fluminense.

Primeiro e mais importante: termine como terminar o ano, seja quem for o treinador, com ou sem reforços de peso, o Fluminense começou mal os últimos três anos.

Em 2009, por exemplo, Renê Simões sequer fez a pré-temporada nas Laranjeiras.

Então, alguma coisa muito errada acontece nessa transição de um ano para o outro. Culpar apenas a falta de estrutura da equipe carioca me parece absolutamente inapropriado e simplista.

Exatamente o que é feito de errado é difícil entender, porque não há uma explicação única para começar mal a temporada (muitas vezes terminar mal também). Talvez sejam vários pequenos problemas que acabam se transformando em um problemão.

Um dos problemas talvez seja a expectativa exagerada em torno do elenco do tricolor carioca.

Os “medalhões” contratados pela patrocinadora do clube são sempre saudados com se continuassem no seu auge físico e técnico e muitas e muitas vezes isso não condiz com a realidade. Vou citar apenas dois exemplos do atual elenco: Deco e Belletti. Quem acompanha o futebol europeu mais de perto sabe duas coisas: primeiro que nenhum dos dois entrava em campo com regularidade no Chelsea; segundo que ambos não apresentam um bom futebol faz um certo tempo.

Só que a patrocinadora, uma parte da torcida e uma parte da imprensa parecem ignorar as duas coisas, saudando os reforços como se eles fossem aqueles jogadores que já brilharam muito na Europa e eles, obviamente, não são mais.

Outro problema é a interferência excessiva que essa mesma patrocinadora exerce no clube. Em vários momentos o Fluminense não é um clube que tem um forte patrocinador. É um forte patrocinador que tem um clube. Esse tipo de interferência acaba causando problemas para os jogadores, a comissão técnica e a diretoria.

Outro fator que pouca gente da imprensa parece interessada em questionar: todo esse dinheiro aplicado pelo patrocinador “só” pode ser utilizado para pagar os salários de jogadores?

As dívidas do Fluminense crescem a cada ano, a estrutura continua sempre a mesma, o clube continua sem um estádio próprio, no entanto todo ano chegam novas e caras contratações.

A torcida e a diretoria do Fluminense deveriam aproveitar essa crise para repensar a situação do clube como um todo e não para falar somente sobre estrutura e Muricy Ramalho.

Talvez seja hora de mudar drasticamente algumas políticas do clube.

Notas de Rodapé:

- O Cruzeiro atropelou seus adversários nos três jogos dentro de casa que fez pela Libertadores. Agora terá dois testes excelentes fora de casa, jogando contra o Guarani e principalmente contra o Estudiantes. Terminar a primeira fase sem perder em um grupo difícil já será uma grande campanha da equipe de Cuca.

- Por enquanto, nenhuma grande surpresa na Copa do Brasil. Alguns clubes tradicionais caíram, mas nenhum dos “grandes” vem tendo sequer dificuldades. No máximo não conseguem eliminar seus adversários no primeiro jogo, disputando o segundo jogo em seus domínios e vencendo sem maiores dificuldades. Continuando assim, teremos encontros muito interessantes mais a frente.

- Quem planta vento, colhe tempestade, não é mesmo diretoria do Santos? O alvinegro praiano passa por sérias dificuldades na Libertadores, muito por culpa da sua diretoria que cometeu um caminhão de equívocos neste início de temporada. Vasco e Santos são os grandes clubes que menos podem reclamar do mau início de ano, já que estão apenas colhendo os frutos podres do péssimo planejamento que fizeram. “Menção honrosa” ao Corinthians que jogou a Libertadores pela janela e corre o risco de entrar em crise caso não vença o Paulistão.

- Assisti o primeiro jogo inteiro da seleção brasileira Sub-17 e apenas superficialmente o segundo jogo. Não gostei da primeira impressão que tive. A seleção carece de organização e, ainda pior, de talento. Posso estar equivocado. Veremos na sequência da competição. Mas, apesar das duas vitórias, a primeira impressão foi ruim.

- Vasco e Botafogo fazem o jogo mais interessante do fim de semana. O Vasco promove a estréia de Diego Souza e aposta em seu poderio ofensivo para superar a organização do Botafogo. Como a equipe cruzmaltina precisa muito da vitória, a promessa é de um bom jogo.