Análise: Brasil

Por Hudson Martins


Jogo: Irã 0 x 3 Brasil
Zayed Sports City, Abu Dhabi
Amistoso Internacional - 07/10/2010

A primeira impressão foi espetacular. Contra os Estados Unidos, na estreia de Mano Menezes como técnico da Seleção Brasileira, uma vitória absolutamente convincente. Já no segundo jogo de Mano à frente da seleção (e aqui não contamos o "treino" contra o Barcelona B, em setembro), viu-se um futebol menos vistoso, dada a inesperada dificuldade apresentada pela defesa iraniana ao ataque brasileiro. Embora os 3 x 0 a favor do Brasil passem a ideia de tranquilidade, o jogo apresentou algumas situações incomuns, que exigiram atenção. A vitória brasileira foi construída através dos gols de Daniel Alves, Alexandre Pato e Nilmar.



Logo de cara, percebe-se um detalhe pouco usual nas movimentações táticas apresentadas neste blog: à esquerda, percebe-se que Robinho não entra em diagonal na direção do gol adversário, e sim, volta ao meio-campo para buscar jogo. Isso ocorreu em função da forte marcação iraniana do primeiro tempo - inicialmente no campo de defesa brasileiro, depois, guardando posição na sua própria intermediária defensiva. Outro jogador que teve de se desdobrar para aparecer para o jogo foi Carlos Eduardo, que acabou sobrecarregado na armação de jogadas por dentro do campo. Em função disso, Mano Menezes trocou Philipe Coutinho por Elias, reforçando o setor central da meia-cancha brasileira. Outras substituições que marcaram o momento mais interessante do Brasil no segundo tempo foram as entradas de Sandro, Giuliano e Nilmar. Este último marcou o terceiro gol - após bela assistência de André Santos, que encontrou espaço pela esquerda - enquanto que Giuliano demonstrou personalidade, organizando habilmente o setor de armação de jogadas da Seleção Brasileira.

Pontos Positivos

Setor defensivo: Ainda que tenha sido vazado (num gol anulado, logo no início da partida), o setor defensivo da Seleção mostra segurança, mesmo com a troca de vários jogadores na comparação com a equipe comandada por Dunga. Lucas e Ramires protegem bem a zaga, igualmente segura com as presenças de Thiago Silva e David Luiz. Daniel Alves e André Santos seguram as pontas pelos lados do campo. Em 180 minutos, nenhum gol sofrido, estatística muito interessante para o início de trabalho.

Alexandre Pato: alguns quilos mais forte, com aparente estabilidade na vida pessoal, e mais experiência adquirida em dois anos de Milan, Pato demonstra que pode corresponder, na Seleção Brasileira, às enormes expectativas criadas durante os tempos de Internacional, sobretudo. Seja fora da área, movimentando-se para confundir a marcação adversária, ou mesmo dentro dela, marcando gols com absoluta segurança, o camisa 9 da Seleção faz mais um jogo convincente num momento de transição, em que a regularidade é mais do que fundamental. Tanto o Brasil, como o próprio Pato saem beneficiados aqui.

Pontos Negativos

Transição lenta: contra os EUA, o Brasil soube criar inúmeros espaços na zaga adversária, construindo diversos contra-ataques. Já contra o Irã (sobretudo no primeiro tempo), muita dificuldade na transição defesa/ataque, dado o bom posicionamento adversário. Com isso, as jogadas ofensivas eram fruto mais do talento individual do que do trabalho coletivo. Ainda que tenha sentido as ausências de Paulo Henrique Ganso e Neymar, deve-se observar que a capacidade de solução dos problemas por parte da Seleção Brasileira foi abaixo do esperado. Neste sentido, a entrada de Elias foi muito importante, dando consistência ao meio-campo, e gerando maior movimentação por dentro do campo.

Aspecto físico: como ressaltado pelo próprio Mano Menezes, houve uma queda de rendimento por parte da Seleção Brasileira em função da alta temperatura dos Emirados Árabes Unidos (36ºC no momento do jogo). Com isso, compreende-se o menor ímpeto ofensivo, e a consequente dificuldade de furar o bloqueio criado pelos iranianos em determinado momento do jogo.

Robinho: alçado ao posto de capitão da Seleção Brasileira, Robinho não convenceu em Abu Dhabi. E o problema não foi de ordem técnica, apenas. Contra o Irã, o camisa 7 deixou transparecer inúmeros momentos de displicência e excesso de individualidade, características que não aparecem pela primeira vez no estilo de jogo do atacante. Ainda que seja extremamente talentoso, Robinho deve entender a importância que tem no momento de mudança da Seleção, e, além disso, perceber que a repetição de erros de tempos idos fará com que a sua carreira siga marcada pela oscilação. A atuação contra o Irã se encaixa perfeitamente neste perfil. O que não é nada bom...

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