Análise: Milan

Por Hudson Martins

Jogo: Milan 0 x 1 Tottenham
San Siro, Milão
UEFA Champions League - Oitavas-de-Final - 15/02/2011

Eliminado nas oitavas-de-final nas suas duas últimas participações na UEFA Champions League, e, em ambas, por equipes inglesas, o Milan entrou em campo nesta terça-feira, contra o Tottenham, não apenas em busca de jogar a zica para longe, como também confirmar a bela fase contra uma equipe forte. Entretanto, no San Siro, viu-se um time previsível, e extremamente limitado no setor de criação, sendo dominado pelo adversário durante boa parte do jogo. Como resultado, derrota por 1 x 0, gol de Peter Crouch, e enorme pressão para o jogo de volta, em Londres.


À esquerda, a equipe que começou o jogo, com Abate e Antonini subindo pouco, ainda que Thiago Silva guardasse posição quando a equipe tinha a posse de bola. Como o setor de criação pouco fazia, Robinho e Ibrahimovic tinham de se virar para aparecerem no jogo, mas o fizeram sem sucesso. Na segunda etapa, Amelia no lugar do lesionado Abbiati, e Pato na vaga do pouco inspirado Seedorf. Os laterais subiram com certa frequência, mas nada que fosse capaz de alterar drasticamente o panorama do jogo, muito em função da manutenção do previsível 4-1-2-2-1 milanista. Jogo muito fraco do Milan sob o aspecto tático.

Leitura Tática

Com a posse de bola, o Milan demonstrou um seríssimo problema na transição defesa/ataque. Sem Andrea Pirlo e Kevin Prince Boateng, que poderiam qualificar a saída de bola, a responsabilidade de levar a equipe ao ataque ficou por conta de Gennaro Gattuso e Mathieu Flamini, ambos bons marcadores mas sem qualquer brilhantismo no quesito qualidade de passe. Some-se a isso a limitação de Alessandro Abate e Luca Antonini, e a muito bem encaixada marcação do Tottenham, e o resultado é uma imensa dificuldade para que a bola chegue ao setor ofensivo.

Já que o meio-campo tinha dificuldades, restava ao jogadores mais avançados voltarem para prestar algum tipo de auxílio. Clarence Seedorf não estava em noite inspirada, e pouco fez neste sentido. Robinho e Zlatan Ibrahimovic se movimentaram buscando jogo, mas, se conseguiam reter a posse de bola, mesmo que por pouco tempo, perdiam qualquer tipo de referência na proximidade da povoadíssima área dos Spurs. Logo, as dificuldades se mantinham.

Na segunda etapa, ao invés de buscar alguma alternativa tática, Massimiliano Allegri preferiu manter o posicionamento da equipe, trocando apenas Seedorf por Alexandre Pato. Como já era de se esperar, não funcionou, uma vez que a saída de bola continuava apresentando limitações. Abate e Antonini ainda subiram mais vezes ao ataque, mesmo não tendo sido contundentes a ponto de incomodar a defesa adversária.

Os grandes momentos do Milan no jogo vieram em lances de bola aérea, sobretudo em escanteios (só no segundo tempo, foram nove). Yepes venceu por algumas vezes o duelo com o gigantesco Peter Crouch, mas parou na grande atuação de Gomes. Embora chances tenham surgido deste tipo de jogada, ainda é muito pouco para uma equipe com bons valores, como é o caso do Milan.

Sem a posse de bola, um duelo se desenhava logo no início do primeiro tempo: Antonini x Lennon. O rápido meia dos Spurs deu trabalho ao lateral milanista durante boa parte do jogo. Mesmo com auxílio apenas esporádico de Vedran Corluka, Aaron Lennon soube explorar as jogadas de linha de fundo, e fez bom trabalho na tentativa de deixar Peter Crouch em condições de marcar. Conseguria seu objetivo mais tarde, aos 35 minutos do segundo tempo.

Extremamente desfalcado, o Milan de Massimiliano Allegri precisava de alternativas para a posição de primeiro volante. Thiago Silva assumiu o posto, algo que já ocorrera em outras partidas da temporada. Embora recuasse bastante quando o Milan tinha a bola, se posicionava claramente à frente da zaga quando a equipe rossonera marcava, talvez na tentativa de conter Rafael Van der Vaart, que se movimentou bastante enquanto esteve em campo, e ajudou a criar algumas oportunidades interessantes para o Tottenham.

Thiago não fez partida desastrosa, longe disso, e, no ponto de vista deste que vos tecla, o posicionamento do camisa 33 não foi preponderante para o mau desempenho do Milan numa análise global da partida. O que não há como não reconhecer é que, como bem observado por Vitor Sergio Rodrigues na transmissão do Esporte Interativo, dificilmente Thiago Silva seria entortado por Lennon como foi o colombiano Mario Yepes, no único contra-ataque cedido pelo Milan em toda a partida. Foi o suficiente para que os Spurs construíssem belíssima vantagem para o jogo de volta.

Balanço Tático

Os problemas causados pelos desfalques milanistas são compreensíveis, mas não justificam a falta de atitude de Massimiliano Allegri no confronto desta terça. Com a necessidade da vitória, Allegri deveria ter lançado mão de alguma alternativa tática assim que percebeu a fragilidade do Milan no setor de criação. Com as opções disponíveis, talvez fosse interessante tentar um 4-2-3-1, com Robinho, Seedorf e Pato compondo a penúltima linha. Yepes sairia do jogo, e Thiago Silva voltaria à posição de origem. A movimentação dos meias poderia facilitar a transição, e abrir espaços perante a boa marcação de Wilson Palacios e Sandro. Allegri não mudou, o Milan foi derrotado, e terá de jogar demais em White Hart Lane para eliminar a fortíssima equipe do Tottenham.

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