A nau vascaína singrando mares revoltos

Por Vitor Fontenele

Desde 1984, o Vasco não tinha um início de Carioca tão ruim. Sua campanha em 2011 é a pior do time em 88 anos de participação na competição. Mas o que explicaria um início tão ruim, se o clube manteve boa parte da base de 2010, e conta com Felipe, Carlos Alberto e Dedé no elenco?

Atendo-se aos fatos, o cruzmaltino iniciou o ano com uma desorganização tática de dar inveja à baderna do Saara, no centro do Rio. Segundo alguns, culpa de PC Gusmão, que havia perdido as rédeas do time desde o segundo turno do Brasileirão e da diretoria, que não o substituiu ao fim do campeonato. Para outros, um complô dos jogadores para derrubar o técnico, com o qual estariam insatisfeitos.

PC Gusmão deixou o comando técnico do Vasco. Para o seu lugar, foi contratado o contestado Ricardo Gomes, mais conhecido no Brasil pelo recente trabalho no São Paulo. Internacionalmente, no entanto, é bastante lembrado pelos bons trabalhos desenvolvidos na França no comando do Paris Saint-German e do Bordeaux. Gomes terá agora boa chance de se reafirmar na carreira de treinador.

Todavia, mais uma crise em mais um clube no Brasil não teria chamado tanto a atenção não fosse o desfecho da mesma. A demissão – mais que óbvia – de PC Gusmão não surpreende ninguém. Mas, em um dos raros casos no país, a diretoria vascaína tomou uma atitude entre os jogadores. Carlos Alberto e Felipe foram afastados por motivos disciplinares.

O que sabe é que o primeiro, jogador com histórico de indisciplina por onde passou, teve uma forte discussão com o presidente do clube, Roberto Dinamite, no vestiário, após o jogo contra o Boavista, quando o mandatário foi cobrar dos jogadores mais empenho para o clássico contra o Flamengo. Hoje, a diretoria do Grêmio confirmou a contratação do jogador por empréstimo. No caso de Felipe, jogador com mais identificação com o Vasco da Gama, oficialmente seu afastamento se deveu aos constantes atritos que o veterano estava tendo com a torcida, causados pelas intensas cobranças que a equipe vinha sofrendo desde o início da competição. Após conversar com o Presidente vascaíno, o jogador voltou a compor o grupo.

A crise que atingiu São Januário é do tipo que provoca mudanças estruturais na equipe. Está mais que provado que a simples troca de técnico só garante a instabilidade do cargo e a inflação desenfreada dos salários da profissão no Brasil (para se ter uma ideia, o português Carlos Queiroz, comandante da Seleção Portuguesa e o primeiro buscado pela diretoria para o cargo, viria ao Brasil ganhando quase o mesmo que Ricardo Gomes; a negociação, entretanto, acabou não dando certo).

Quando a boleirada vai punida, toma, nas palavras do próprio Dinamite, uma “sacudida”. Talvez fosse isso que faltava ao Vasco. Pulso firme nas decisões administrativas, a reafirmação da necessidade de respeito à Instituição e a cobrança direta daqueles que pagam os salários dos jogadores. Isso sem falar na devida punição a quem não cumpre com seus deveres de profissional, é claro. Quem sabe agora a nau vascaína tenha finalmente encontrado mares tranquilos e bons ventos.

Um comentário: