Análise: Chelsea

Por Hudson Martins

Stoke City 0 x 0 Chelsea
Britannia Stadium, Stoke-on-Trent
Campeonato Inglês - 1ª Rodada - 14/08/2011

Dos grandes clubes ingleses, a estreia do Chelsea na Premier League aparentava ser a mais interessante. Embora não tenha contratado grandes reforços, o clube londrino trouxe Andre Villas-Boas, técnico mais vitorioso da última temporada europeia ao lado de Pep Guardiola, e de estilo de trabalho repetidamente comparado ao de José Mourinho - para o qual AVB trabalhava como assistente na passagem do Special One pela Inglaterra. Num jogo difícil, os Blues não saíram de um empate sem gols com o Stoke City, fora de casa.

Embora seja um adversário bastante previsível, o Stoke City não é fácil de ser batido. A defesa bem posicionada e que distribui pancadas sem cerimônias, e os laterais imprevisíveis de Rory Delap pautam o modelo de jogo da equipe de Tony Pulis. Para enfrentar um adversário enjoado, o Chelsea se valeu do 4-3-3 em base alta, mesmo esquema tático adotado por Villas-Boas no Porto. Ofensivamente, faltou maior paciência na troca de passes, já que o Stoke oferecia a posse de bola à equipe adversária, que insistia em jogar rapidamente em direção ao gol, cadenciando pouco o jogo e, consequentemente, errando em demasia. Na defesa, o Chelsea tinha como principal preocupação os laterais de Delap, que empurravam todo o seu sistema defensivo para dentro da área, já que os altos Robert Huth e Ryan Shawcross subiam ao ataque na tentativa de aproveitar os cruzamentos oriundos da linha lateral. Aqui, destaque para Alex e John Terry; soberanos não apenas neste tipo de lance, mas em todos os duelos com o ataque adversário.

À esquerda, o Chelsea do primeiro tempo, de boa movimentação (sobretudo de Torres), mas excessivamente vertical. Faltou cadência aos Blues. À direita, a equipe do segundo tempo, quando passou a jogar no 4-3-1-2. Boa tentativa de Villas-Boas, mas que não surtiu efeito em função do desgaste acumulado durante a partida, e pelas características de Anelka, diferentes das exigidas naquele setor.

Na segunda etapa, o Chelsea utilizou de maneira mais consciente a posse de bola, criando uma série de oportunidades que pararam na excelente atuação do goleiro Asmir Begovic. A boa movimentação de Fernando Torres e o apoio constante de Jose Bosingwa, Ramires, Frank Lampard e Ashley Cole ajudavam a fortalecer o sistema ofensivo e empurrar o Stoke para o seu próprio campo. A pressão dos visitantes também gerou lances duvidosos; houve grande reclamação pela não marcação de três supostos pênaltis em Torres (duas vezes) e Lampard (este deveria ser marcado, de fato). Sem conseguir superar a defesa adversária, Villas-Boas promoveu mudanças no ataque, alterando a forma de jogar da equipe para um 4-3-1-2 que não gerou resultado. O Chelsea não foi ameaçado, mas saiu do Britannia Stadium com duas sensações: por um lado, poderia ter sido mais regular, jogando bem ofensivamente em ambas as etapas; por outro, sai com um ponto numa partida complicada, contra um adversário que, provavelmente, trará dificuldades para os outros clubes grandes durante o campeonato.

Leitura Técnica

- Ao contrário do que o Liverpool fizera um dia antes, o Chelsea demonstrou maleabilidade tática, quando alternou do 4-3-3 para o 4-3-1-2 durante o segundo tempo. Atitude correta de Villas-Boas, que observou o mau rendimento dos jogadores dos lados do campo (Florent Malouda e Salomon Kalou), ainda que a equipe conseguisse pressionar o Stoke. A mudança de esquema tático é interessante, mas exige um jogador que saiba ser criativo pelo centro do campo. Nicolas Anelka e Yossi Benayoun, responsáveis pela função no jogo deste domingo, não são especialistas no setor. Não por acaso, a mudança não surtiu o efeito esperado.

Villas-Boas não foi mal na estreia, mas o Chelsea parou em Begovic

- Fernando Torres começou como titular e foi um dos destaques do jogo. Embora tenha sido individualista em vários momentos, foi o responsável por quebrar a estrutura defensiva do Stoke por diversas vezes. Com boa movimentação, e disposto a apagar a péssima impressão que deixou na última temporada, Torres pode se tornar uma excelente opção, caso volte a ser regular.

- O Chelsea insiste na contratação de Luka Modric, do Tottenham. Talvez pelo fato de ser evidente a importância de um jogador que saiba cadenciar o jogo ou imprimir um ritmo mais forte, de acordo com a necessidade da partida. Lampard pode ser este homem, mas aparenta não estar nas condições físicas ideais. Ramires, por sua vez, não é este jogador. Caso Modric seja adquirido, o Chelsea ganhará uma peça fundamental para o bom funcionamento da equipe no esquema tático preferido pelo seu técnico, o 4-3-3.

- Houve uma certa oscilação na marcação em linha alta da equipe de Villas-Boas. No primeiro tempo, viu-se um movimento muito mais individual do que coletivo, com pressão de apenas um jogador sob o adversário de posse da bola. Já na segunda etapa, quando teve maior domínio das ações, o Chelsea demonstrou maior organização neste sentido, e deixou boa impressão numa das atitudes que devem pautar o sistema defensivo da equipe londrina durante a temporada.


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