Análise: Atlético Mineiro

Por Hudson Martins

Jogo: Atlético Mineiro 1 x 2 Grêmio
Arena do Jacaré, Sete Lagoas
Campeonato Brasileiro - 25ª Rodada - 26/09/2010

Nove meses de trabalho não foram suficientes para que Vanderlei Luxemburgo desse ao Atlético Mineiro a consistência tática e o equilíbrio técnico necessários para encarar com a devida competitividade a temporada 2010. Ainda que tenha sido campeão do Mineiro 2010, e feito boa campanha da Copa do Brasil - quando foi eliminado pelo Santos - Luxemburgo falhou na competição mais importante do ano. Demitido após a goleada para o Fluminense no meio de semana, VL entrega a batata quente nas mãos de Dorival Júnior, aquele que talvez já seja o dono do posto ocupado pelo próprio Luxa por muito tempo: o de melhor técnico de clubes do Brasil.

Entretanto, este rótulo não será suficicnte para que Dorival alcance o seu principal objetivo a partir de agora. Livrar o Galo da zona da degola exigirá muito trabalho, dedicação e um bocado de sorte - e tudo isso em curtíssimo prazo. Prova disso foi a derrota para o Grêmio neste domingo, em Sete Lagoas. Amplamente dominado em parte do primeiro tempo, absolutamente desorganzado taticamente e refém de jogadas individuais, o Atlético reforçou a sensação de impotência demonstrada há muito tempo, e mostrou que não será simples escapar do Z4. No embate deste domingo, Jonas e Gabriel marcaram para os visitantes, ao passo que Diego Tardelli conferiu o tento atleticano.


A escalação inicial do Galo traz consigo dois destaques: primeiramente, a aposta em Renan Ribeiro, figura carimbada nas seleções nacionais de base, e já há algum tempo pedido por parte da torcida, dada a instabilidade dos arqueiros atleticanos. O garoto foi muito bem, mesmo sendo vazado duplamente. Num segundo momento, vale a pena observar o 4-4-2 de Dorival Júnior esquema com o qual o Atlético se habitou a jogar em boa parte do primeiro semestre. Porém, a organização daquela época se perdeu com o passar do tempo. As laterais são deficientes, com Rafael Cruz e Leandro demonstrando dificuldades na marcação e no apoio; a cabeça de área não preenche os espaços corretamente (a movimentação de Douglas - em destaque - foi preponderante neste sentido); Ricardinho auxilia ao ataque, mas movimenta-se de maneira equivocada (muitas vezes buscando o jogo pela direita, ocupando os espaços de Serginho ou Daniel Carvalho).

Com problemas na primeira etapa, Dorival mudou para o 4-2-3-1 que pode ser visto à direita, e que foi utilizado por todo o segundo tempo. Mesmo com a mudança tática, e as alterações que se seguiram (Eron no lugar de Ricardinho, e Diego Macedo na vaga de Rafael Cruz - Neto Berola já havia substituído o lesionado Diego Tardelli no primeiro tempo), o Atlético não conseguiu pressionar o Grêmio com consistência. Houve sim, algumas chances de gol - aproveitando-se das subidas de Diego Macedo, e da vontade de Neto Berola - mas a pressão foi apenas sazonal. Faltou força para que o Galo pudesse alterar o 1 x 2 sofrido no primeiro tempo.

Pontos positivos

Renan Ribeiro / Daniel Carvalho: temos aqui dois perfis bem distintos. Um ainda é uma promessa, no sentido literal da palavra. Não tem experiência no elenco profissional, e assumiu a posição de titular num momento delicadíssimo do Brasileirão. Ainda assim, Renan Ribeiro demonstrou personalidade, e salvou o Galo de sofrer uma derrota mais contundente. Por sua vez, Daniel Carvalho tenta se livrar do rótulo de "eterna promessa", que ainda permeia o camisa 10 atleticano. Contra o Grêmio, bons dribles e finalizações potentes, além de se tornar a principal referência do time em campo (sobretudo após a saída de Diego Tardelli). Daniel aparenta querer reencontrar o futebol que já o levou à Seleção Brasileira.

Déjavu tático: Dorival Júnior, ao utilizar o 4-4-2 com um losango no meio, mata dois coelhos com uma cajadada, apenas. Além de recuperar um esquema tático que o agrada (foi assim no Vasco/2009, e no início de trabalho do Santos/2010), volta a utilizar um sistema com o qual o próprio Atlético acostumou-se no começo da temporada, quando o rendimento da equipe era bem superior ao atual. Está longe de ser a solução primordial para os problemas do CAM, mas não deixa de ser uma alternativa válida num momento que exige criatividade. Vale a pena prosseguir com o teste.

Pontos negativos

Samba do crioulo doido: essa seria uma definição interessante para o Atlético, quando o analisamos coletivamente. Embora haja potencial técnico, não há como aproveitá-lo se não houver organização tática. É essa desorganização que faz com que Jonas tenha espaço para acionar André Lima no lance do primeiro gol, para que Gabriel entre livre na grande área na jogada do segundo tento, ou então, que sobrecarrega Daniel Carvalho no setor de criação, já que não há passagem dos laterais, ou mesmo, uma movimentação mais efetiva de Diego Tardelli (ainda que este seja muito bom tecnicamente). A mudança tática supracitada deve gerar efeitos o quanto antes, caso o Galo queira manter as esperanças de permanecer na Série A em 2011.

Psicológico abalado: à medida que o Brasileirão se afunila, a pressão sobre os jogadores cresce exponencialmente. Talvez ela explique a falha grotesca de Serginho no lance que precede o primeiro gol do Grêmio, ou mesmo, algumas das recentes expulsões e erros de finalização do Galo, todos motivados pela afobação causada pelo mau momento. Quanto menor a confiança, maiores as dificuldades para triunfar num ambiente tão competitivo e de alta pressão como é o do futebol brasileiro. Aí está mais uma questão a ser administrada por Dorival Júnior.

Tabela enjoada: o Campeonato Brasileiro não costuma ser pródigo em partidas ditas "fáceis", já que há diversos fatores (tais como alto número de clubes de tradição, estádios complicados de se jogar, briga intensa por posições) que equiparam fortemente o certame. Entretanto, não há como negar que todos os próximos jogos do Atlético são complicados, dado o atual momento da equipe. Ceará e Atlético-GO (F), Corinthians (C), Internacional (F) e Avaí (C) são os confrontos vindouros. As duas primeiras e a última são partidas decisivas na luta contra o rebaixamento.

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