Análise: Vasco da Gama

Por Hudson Martins

Jogo: Palmeiras 0 x 0 Vasco
Pacaembu, São Paulo
Campeonato Brasileiro - 21ª Rodada - 12/09/2010

Palmeiras e Vasco já receberam, por parte de torcida e imprensa, o rótulo de "reis dos empates" deste Campeonato Brasileiro. Ainda que este blogueiro não seja adepto desses "clichês", é fato que as 11 igualdades palmeirenses e as 10 vascaínas sustentam este argumento. O Palmeiras amarga o quarto jogo seguido sem vitória, além da desconfiança da torcida, ao passo que o Vasco, ainda que tenha dificuldades para se aproximar do G4, conquista o 12° jogo de invencibilidade.


Paulo César Gusmão não contou com Felipe e Carlos Alberto, mas teve o retorno de Zé Roberto, alteração que elevou consideravelmente a qualidade técnica do ataque cruzmaltino. Com a volta do camisa 10, houve nitidamente mais movimentação e maior capacidade de criação de jogadas individuais, na comparação com o jogo da última quinta-feira, contra o Atlético-MG. Com bom desempenho do próprio Zé Roberto, além de Éder Luís, foi o Vasco quem controlou boa parte das ações no primeiro tempo. Já na segunda etapa, com a entrada de Valdívia, houve mais movimentação, com as equipes se alternando no domínio do jogo, e criando algumas chances para abrir o placar - o que não ocorreu.


Acima, observam-se as configurações táticas do primeiro tempo, e de boa parte do segundo. À esquerda, o esquema vascaíno na etapa inicial: num primeiro momento, atenção ao posicionamento de Fellipe Bastos, que, embora avançasse ao ataque, não fez o papel de um meia pela direita. Na verdade, sua função era qualificar a saída de bola (aproveitando-se também da boa capacidade de finalização que tem) e, principalmente, auxiliar as constantes subidas de Fágner, que era coberto por Nilton naquele setor. Fellipe também deveria auxiliar a marcação pelo lado direito do campo. Pela esquerda, Éder Luís ficou sobrecarregado em função das poucas subidas de Jumar, e contava com a movimentação de Zé Roberto para romper a defesa adversária.

Na ilustração à direita, nota-se algumas mudanças. A principal delas foi a entrada de Rômulo, com a função de conter a boa atuação de Valdívia. O camisa 37 vascaíno foi bem dentro daquilo que lhe foi pedido. Apostando nos contra-ataques, PC Gusmão abriu Jonathan e Éder Luís pelos lados do campo, e centralizou Zé Roberto, apostando na velocidade e movimentação do trio. Os apoios de Fágner mantiveram-se recorrentes. A defesa, bem estruturada, não sofreu gols, mas o ataque, ressentindo-se de mais qualidade, também não marcou.

Pontos positivos

Solidez defensiva: aqui está aquele que talvez seja o grande mérito de PC Gusmão desde que assumiu o Vasco. Ainda que não tenha jogadores espetaculares, o técnico vascaíno soube construir um sistema defensivo seguro, que passa pela aplicação tática de meias e atacantes, a proximidade entre as linhas da equipe (tornando o Vasco compacto), além do excelente momento de jogadores como Dedé e Fernando Prass.

Zé Roberto / Éder Luís: ambos caracterizados pela irregularidade, têm demonstrado um crescimento considerável desde que chegaram ao Vasco. Enquanto Zé demonstra mais maturidade e comprometimento profissional, Éder mostra a confiança que muitas vezes não teve, sobretudo nos tempos de Atlético-MG. Provas disso são os vários dribles a cada jogo, ou mesmo, o belíssimo gol contra o próprio Galo, na última quinta.

Visitante enjoado: exceção feita à partida contra o São Paulo, o Vasco tem mostrado desempenho ofensivo até melhor nos jogos como visitante do que como mandante. A explicação: uma defesa consistente, que sabe marcar eficientemente o ataque adversário e sair com muita velocidade nos contra-ataques, aproveitando as brechas deixadas pela defesa adversária. Zé Roberto, Fágner, Éder Luís e Carlos Alberto agradecem.


Pontos Negativos

Desequilíbrio ofensivo: a improvisação de Jumar pelo lado esquerdo do campo, traz nítidos prejuízos ao setor ofensivo vascaíno. Como ele pouco sobe ao ataque, não é raro ver o Vasco procurando insistentemente o jogo com Fágner, pela direita. Éder Luís tenta compensar o problema, caindo pelo flanco esquerdo, mas é nítido que a sua aplicação não resolve completamente a questão. A volta de Ramon (ou mesmo de Max) é fundamental neste aspecto.

"Eu já sabia": desde a chegada de PC Gusmão, percebe-se que as mudanças feitas pelo treinador durante as partidas acabam se tornando previsíveis, muito em função da disparidade técnica entre titulares e reservas (o que pede uma espécie de "compensação tática"), e a quase inexistência de jogadores polivalentes no banco de reservas (e aqui não estamos falando de jogadores "quebra-galho"; falamos de atletas que rendem bem em vários setores do campo). Isso fica ainda mais evidente quando Carlos Alberto e/ou Felipe não jogam, o que ocorreu no empate deste domingo.

Desgaste físico: como já dissemos, a marcação é uma das virtudes da equipe de PC Gusmão. Entretanto, deve-se observar o desgaste gerado pela correria vascaína: queda de rendimento ofensivo ao término de cada etapa, e lesões (ou mesmo cãimbras ou algo do tipo) em diversos jogadores do elenco. Some-se a isso a atual maratona de jogos, e o resultado é um risco altíssimo de desfalques. Para não citar os já lesionados, vale ressaltar o desgaste apresentado por Éder Luís e Rafael Carioca nos últimos jogos.

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